quarta-feira, 2 de junho de 2010

doispontotrês.


Olhar para trás de tempos em tempos e se banhar na ilusão de que as cores de ontem eram mais certas, corroer as horas inúteis de cama e namoros inférteis para chorar os livros não-lidos, as noites tão mesmas são feridas abertas na carne de quem perde os pais numa tarde qualquer e não alcança na mente momentos melhores do que os pouco-felizes.
Viver, para quem é como nós, de costas com alças para que se leve fácil, é nunca ter paz.
Vontades vadias de amores sonhados, bolsos cheios, noites completas e viagens de férias preenchem a alma e condenam a voz de um gosto pelo hoje que não mais tem se deixado cair nestas páginas.
Por isso, quando for frio o bastante para não se crer em nada que não toque minhas mãos, e sonhar na escadaria dos bares com queridos-amigos-que-morrem-um-dia já não condizer com meus planos certeiros de envelhecer com graça e romper com as garras das ilusões de garoto, dobre-me ao meio e me guarde na caixa, amigo, pois me rendi à tolice de estar velho-maduro e cansei de me ser.

(

2 comentários:

  1. " Viver, para quem é como nós, de costas com alças para que se leve fácil, é nunca ter paz."

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  2. Me encontrei tanto nesse texto.
    É o sentir-se nu.
    Quase literalmente!!!
    Huahuahuahuahuahuahuahuahuahuahua

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